Oi.
Eu não pensava mais nisso há algum tempo, envolvida nas minhas coisas, porque desde que te tirei de minha vida eu voltei pra ela, para minha vida. Retomei meus projetos e tinha muita coisa para resolver, e outros empecilhos no caminho, como o computador que estragou e quase me infartou...
Ontem eu senti com alguma força saudade de reviver um abraço bom, tão bom que faça eu me perder no corpo do outro e desejar ficar ali, pra sempre, pra todo, até o fim. O toque de uma pele que te acalma e te excita ao mesmo tempo. Não contigo, porque és o Freddy Krueger e me horroriza pensar em me aproximar de ti. Mas com a pessoa que eu acreditava que eras, antes de literalmente a tua máscara cair sem que tu percebesse e eu visse o terror todo contido embaixo dela.
Revolta, dúvidas, incertezas, como eu pude?, por que eu pude?, para que eu pude?, perguntas todas que eu sei cada resposta, mas que vem à tona volta e meia pra me fazer novamente repetir para mim mesma e reafirmar todo o horror que eu já sei.
Não é tua culpa. Eu desde sempre aprendi a amar o horror, ele é familiar e esteve sempre muito, muito perto de mim, tendo acesso incontinente inclusive por muitos anos. É esse horror primeiro que é causa de todos os outros. É esse horror que eu preciso curar em mim, para só então poder estar forte para enfrentar o mundo e não correr o risco de deixar o horror entrar achando que é o amor. Nada mais triste, forte e terrível é isso...
Enquanto eu continuamente vou repetindo para mim as razões nesse processo de cura que preciso perseguir e caminhar, eu vou vivendo. Nessa vida, hoje eu fiquei muito impactada com uma situação e não consegui deixar de vir aqui registrar. Eu conversava com uma pessoa no whatsapp, que venho conversando há vários dias, semanas acho. Tão cordial, sempre tão educado. Por vezes me parecendo até recatado, ou desinteressado. Essa pessoa hoje me agradeceu por ouvi-la, por apesar de eu estar tão infinitamente ocupada (está acompanhando minha saga com o computador e as aulas e o IR e as evoluções e etc. etc. etc.) eu dedicava algum tempo para conversar com ela. Me pediu para descansar um pouco e me alimentar. Isso me pegou fundo, Freddy. Lembrei que contigo eu não conseguia trabalhar. Quando estavas aqui delegava minha atenção todo o tempo me chamando, reclamando de eu não estar a tua volta. Quando não estavas aqui me enviava mensagens a cada 20 minutos e eu precisava responder sempre, o mais rápido possível. Eu não conseguia sentar à frente do computador e estudar, mesmo estando longe me mantinhas ligada às tuas necessidades, sensações, pensamentos, medos, angústias e problemas. Coisas importantes e cabais, como a contabilidade do mês para eu fazer as cobranças eram momentos permitidos, eu fazia correndo pra voltar logo pra ti. Eu queria estar contigo, mas era mais que isso, era também condicionamento. E toda essa devoção em nenhum momento reconhecida, eu nem sabia que se reconhecia isso...sempre tratado e recebido com uma atitude de "é pouco" "preciso mais".
Ouvir alguém me tratar como pessoa, com necessidades próprias, respeitando meu tempo e minhas cosias, foi intenso...só de lembrar eu choro... Como essas programações mentais são profundas e intensas... não é desinteresse, é respeito! Numa relação sadia tem disso...tem espaço pro outro, não tem controle disfarçado de "love bombing". A gente tem a mente torta, enxerga tudo atravessado, o que é bom vemos como ruim e o que é ruim vemos como bom. Eu preciso curar essas feridas, essa ferida emocional que começou lá no útero, dentro de outro monstro, que foi minha ferida primeira. Desde lá que é introjetado em mim a ideia de que não tenho valor, não sou merecedora, que tudo que faço é sempre pouco, vale sempre pouco. Essa ideia de que nada meu é importante, nem meu tempo, minhas tarefas, meus medos, meus anseios, minhas dores, minhas preocupações, meus problemas. Tudo de mim é sem valor! De monstro em monstro eu fui encontrando a familiaridade do horror achando que era amor. Não sem crítica, mas porque assim eram desde sempre. E foi esse pequeno detalhe, essa crítica, implementada por alguém que de fato me amou muito, embora não tenho tido forças para me salvar e se salvar do horror, foi esse amor que fez essa resistência, pequena, mas capaz de criar essa crítica e de algum modo me salvar da ruína. Eu não fui capaz de encontrar amor de verdade no outro de novo, mas graças a ele eu fui capaz de entender que era melhor ficar sozinha. E assim não morri.
Hoje foi como uma luz. Ver esses reflexos benfazejos me fez tão bem e me fez tão mal ver, de novo, a escuridão que eu estou. Eu quero que a luz entre. Eu quero o amor. Eu preciso curar em mim a familiaridade do horror para nunca mais deixá-lo entrar em casa com a máscara de amor.
De pouco em pouco, a gente se cura. Cada um de nós. Que assim seja.