Telhados de Paris
sábado, 16 de agosto de 2025
Saudade...
Ontem completou 18 anos que meu pai desencarnou.
O meu pai era um homem incrível e não conheço nenhuma vida que não tenha sido afetada por ele de forma positiva. Ele espalhou amor e bondade. Ele sonhou com um mundo mais justo e igualitário. E pagou um preço alto por seguir firme nos seus ideais: não suportou a maldade da vida. Meu pai com 45 anos teve o primeiro surto. Eu tinha nove anos. Ninguém entendia bem a saúde mental, o mundo se dividia entre "loucos" e "não loucos", os primeiros indo para o manicômio.
Eu vi muitas vezes a dificuldade das pessoas em lidar com o nome da doença do pai. O pai foi diagnosticado com esquizofrenia. E eu tenho tanto orgulho do meu pai até nisso!
Os familiares falam com pesar da vida triste que ele teve. Também me dói, mas o orgulho dele é maior. Ele não arregou nunca. Até o fim. Imerso na "loucura". Aliás, é por isso que ele psicotizou. É por isso que todos psicotizam. Ou arrega para o jogo maldoso da vida ou surta. Quem trabalha com psicóticos sabe do que estou falando. Eles são as melhores pessoas eles são melhores que nós.
Há três anos, quando fiz 45 anos, eu senti medo e esperança. Será que vou psicotizar também? Será que sou essa pessoa incrível também? Eu não sou. Mas me esforço a cada dia. A tua vida me salvou e me salva todos os dias.
Ontem passei a tarde falando das dificuldades da minha vida. Ninguém consegue entender tudo que enfrentei e passei. Nem eu. Só tem uma explicação: teu amor, pai!
Eu te amo!
Me espera.
sábado, 15 de março de 2025
São Bernardo
É absurdo o quanto a ausência está em todos os momentos.
Lendo agora uma crítica negativa sobre um livro me tomou imediatamente o reviver de uma cena do passado. Eu com um livro do pai na mão e ele me dizendo "esse livro não foi escrito pelo Graciliano Ramos". Indignado, se é que se pode chamar o olhar firme dele de indignação, era o máximo que se exaltava. Tão diferente de mim que herdei os genes ruins do outro lado e me inflamo, explodo...
Eu já sabia que aquela era a opinião dele, porque ele rabiscou isso em várias partes da capa e contracapa "esse livro não foi escrito pelo Graciliano Ramos". Tudo era colocado na conta de sua doença emocional, era assim que éramos programados e influenciados a pensar. Ninguém veio aqui deter essa pessoa que fazia tão mal ao pai e a nós, muito embora todos depois se legitimaram a julgar nossas escolhas na sobrevivência,se é que podemos chamar de "escolhas".
Dito isso, o ponto hoje é a saudade desse ser humano.Revivi a cena com tanta lucidez que parecia poder tê-lo perto novamente. Tantos detalhes dessa existência que tanto amei. Essa brecha que lembrei, sua crítica ao livro, me faz pensar em todas outras opiniões das coisas e da vida que ele com certeza tinha e eu não soube e nunca vou saber.
Não é verdade que o tempo acostuma ou acomoda. Quanto mais velha eu me torno, mais sinto falta do meu pai.
terça-feira, 18 de fevereiro de 2025
Miserável solidão
"Não satisfeito com sua miserável solidão o ser humano a impôs aos animais".
Li essa frase agora e ela me impactou muito e me confortou. Absurdamente me confortou. Se essa solidão miserável é constante a todos, então eu não estou tão sozinha...
Depois de um mergulho na paixão e cair de cabeça no chão eu vivi um tempo de libertação. Quebrar a cara me libertou, me fez ver o amor que tenho em mim e me fez pensar que mereço todo amor do mundo porque é exatamente isso que eu entrego sempre a todas as formas vivas ao meu redor.
Essa fase de libertação e afirmação foi diminuindo e entrei 2025, esse ano que é ímpar e vai ser um ano horrível como todos os ímpares da minha vida, decaindo.
Desacreditando de conseguiu amar um homem, são todos idiotas, misóginos e narcisistas.
Cansada de ver o melhor em tudo, de ser a Poliana, de nunca ver o fim desse jogo do contente que nunca acaba e nunca traz algum tipo de vitória ou recompensa.
Cansada de acreditar, de ter fé, de me superar.
Querendo desabar, deixar tudo explodir...
É tanta tristeza, egoísmo e malvadeza ao redor que está cada vez mais difícil achar um ponto de foco e fuga disso tudo...lembro de pessoas incríveis e sensíveis que se mataram por não suportar a dureza dos humanos: Robin Williams e Flávio Migliaccio. "Protejam as crianças", pediu o último. Quanta dor esses dois corações tão doces tiveram de presenciar... quando a gente entende dói mais. Eu sei.
Assinar:
Comentários (Atom)