sábado, 27 de março de 2010
Pelotas me pegando de jeito
Cheguei ontem de Pelotas. Estava moída de cansaço, já eram 00:30. Queria ter escrito ontem, mas o meu estado físico falou mais alto. Além da viagem, que é cansativa, mais de três horas pra chegar em Porto Alegre e depois mais de duas horas pra chegar em Novo Hamburgo, eu passei a semana sem descanso. Alojada no DCE, acordava e batia perna o dia inteiro, atrás de lugar pra ficar e atrás da documentação pra bolsa. À noite, eu não tinha nem vontade de ir pra aula. Sim, pasmem. EU não tinha vontade de ir pra aula. Tamanho o desgaste. Como estou no DCE, compartilho o espaço de uma casa de três quartos com mais ou menos 60 pessoas. Sem exageros. A última lista que vi tinha 63 nomes.
Mas eu queria ter escrito ontem. Mesmo com todo este cansaço tentei, mas não pude. Queria escrever as coisas que vivi lá e estavam ainda tão vivas em mim. Não queria perder nada, nenhum momento ou sensação.
Estou quase provando cientificamente que os pelotenses não são deste mundo. Os estudantes de fora que não tinham onde ficar, foram TODOS recebidos na sede do Diretório Central dos Estudantes da UFPel. Num apertamento solidário que até agora me comove. Em momento algum eu presenciei algum tipo de rispidez ou o menor ensaio antipático sobre nós como "forasteiros". O DCE não só nos abrigou e nos recebeu com muito carinho, como também a gestão abriu mão de coisas suas como família, amigos, etc., para se dedicarem à nós, e à nossa causa em tempo integral. Estou muito tocada. Estou muito impressionada. Não é função do DCE nos acolher e ainda assim eles o fazem, e mais: o fazem com muito carinho. Espero não deixar nada para trás. Espero lembrar de todos os menores detalhes que me enternecerem nesta semana. Como na visita do reitor, gente estou abismada com isso. O reitor esteve no DCE pra conversar conosco, pobres mortais, bixos de fora, pobres amontoados sem grana pra ficar em outro lugar. O cara esteve em pessoa, 23:30 da noite, pra conversar com a gente. Como se não bastasse o fato de ele se dirigir até lá, ainda o fez num horário em que todos podiam estar presente (uns têm aula de manhã, outros à tarde, outros à noite), mesmo sendo um horário em que ele podia estar com a sua família. Ele fez questão de saber nossos nomes, todos nossos nomes, de onde éramos e nosso curso. Ele nos ouviu. Qualquer um ali pôde levantar o braço e fazer suas colocações diretamente à ele. O máximo de contato que tive com o reitor da Feevale foi um "bom dia" ao cruzar com ele no campus. O reitor da UFPel não só nos ouviu: ele se importa. Fez as suas colocações, mostrou o que podia fazer pela gente, e de nossa parte ficamos muito satisfeitos. Eu na verdade fiquei agradecidamente perplexa. Eu já sabia que essa gente de Pelotas era gente boa, mas não esperava tanto. Depois da saída do reitor ainda presenciei outra cena mui tocante. Uma das meninas do DCE chorava. Me assustei um pouco, e as outras meninas me disseram que ela estava emocionada. Olha a sensibilidade!!! Ela estava chorando por nós. Porque foram alcançadas conquistas que irão beneficiar nós, os bixos estrangeiros. E ela se emociona com isso. Gente, se isso não é um coração de ouro, é o quê então?
Quarta pela tarde o DCE organizou uma assembléia aberta no meio da praça General Osório, onde todos puderam fazer suas reivindicações. Todos puderam colocar seus pontos de vista e apontar melhorias não só na universidade, mas na sociedade de modo geral. De forma democrática, de forma tranquila, de forma organizada. Em Pelotas os estudantes se organizam, os estudantes se conscientizam de seu papel político dentro da organização social que chamamos de comunidade. Eu amei!!!!
Nisso tudo, misturando línguas, sotaques, sinônimos, fui testemunha de uma conjuntura cultural que nunca havia tido antes. Nem em meu mais fértil e imaginoso devaneio. Ali estavam paulistas de várias cidades, cariocas, fluminenses, gaúchos, mineiros, um ludovicense (São Luís), um brasiliense, um pernambucano, um manauense (Manaus), paraenses, catarinenses e por aí vai. Aprendi tanta coisa que nenhuma aula de cultura brasileira daria conta, nenhum curso de sotaques conseguiria. E mais, aprendi sobre convívio, aprendi sobre o quanto somos diferentes e ainda assim tão iguais. Aprendi o quanto os seres humanos podem ser bons. Coisa que pra mim já estava virando um mito...
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Isso tudo eh muito bom, faz a gente ver que ainda eh possível acreditar no ser humando, apesar de tanta hipocrisia e demagogia...e que tem pessoas que sabem fazer a diferença!
ResponderExcluirAh, adorei este lugar (seu blog) aqui viu ?....serei um leitor assíduo!
Como dizia o Spock.....FASCINANTE!!!.....como vc eh claro!!!...rs...
Bjs