"Imagino o desespero de alguém que deseja retornar ao ponto de partida, recriar suas experiências, vivenciar o que lhe foi sonegado, mas que não pode. Ninguém pode voltar para onde nunca esteve."
Martha Medeiros
A jornalista faz referência a um filme que conta a história de uma menina abusada pelos pais. Não existe nada mais destruidor do que sofrer violência dos genitores. Retalha a alma. Nada dói mais e nada é mais cruel. O sujeito nem sabe que está sendo violado. Esta é a sua realidade, o seu comum. Ele não possui ponto de comparação para saber que há uma indiferenciação entre ele e seus agressores, passa a ser objeto e não se torna cônscio disso. E assim, continua nessa condição. Dói, ele sofre, mas não tem a mensuração do que ocorre. Como se estivesse na escuridão levando agulhadas, sem saber de onde vêm ou porque vêm. Na grande maioria das vezes assume a culpa por tudo que ocorre e se consome mais ainda. Tornando o quadro ainda mais assustador e doentio, ele ama seus violadores. São seus pais. Uma pessoa nestas condições nada mais é que um animal. É um bicho. Não tem individualização, não tem permissão para sonhos próprios, é apenas uma extensão das necessidades e desejos dos agressores. Não teve autorização para ser "humano".
E mais tarde, quando mostrar à sociedade o bicho que é, será punido e execrado...
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