Escrevedora

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Eu escrevo há muitos anos...tenho muitas páginas de cadernos em pastas com textos e textos "escrevinhados". Acho que mais "escrevinhados" do que escritos. Como um rabisco, uma forma de expressão, sem nenhum comprometimento. Não sou uma escritora, mas sou uma "escrevedora". Meu primeiro texto-rabisco foi com uns 11 ou 12 anos. Escrevo sobre tudo. E sobre nada especificamente. Vou anotando as palavras conforme o que dá vontade. Acho que na verdade eu só transcrevo o que meu cérebro está pensando ou sentindo no momento. Exatamente como uma degravação.

Eu pegava a caneta e ia me aventurando no papel. Hoje o teclado que é meu cúmplice. Às vezes, cometo uma traição. Fico com saudade de poder desenhar a letra com capricho, então volto a procurar a caneta. Pego também o caderno espiral e me vou...

Mas acho que escrevo muito antes de escrever propriamente. Lá longe, na distância geográfica das minhas lembranças, quando eu deitava na cama de casal e interrompia a leitura do pai. Ele pachorrentamente - como sempre - largava o livro e me contava uma história. "Tu queres que o pai conte uma historinha?" - "Quero", eu repondia dengosa. Mas reponder em letras garrafais "CERTOOOOOOOOOOOOO QUE SIM!!!!!!!!", expressaria melhor o que eu sentia.

E ele navegava: "Então a mãe da chapeuzinho mandou ela levar uns pãezinhos para a avó..." - "Pãezinhos?", eu estranhava. Ele respondia que sim, que ela tinha recém feito uma fornada de pão de casa e estavam bem quentinhos. E retomava a saga da menina de vermelho. Eu perdia uns pedaços porque ficava intrigada pensando: "por que quando o pai conta é pão de casa que a chapeuzinho leva e nos livrinhos ela sempre leva doces?" ... e assim meu pai seguia, "agauchando" as historinhas que me contava.

E assim me vou, continuando a escrita que começei lá com ele, naqueles doces momentos da minha infância que eu guardo com muita ternura. Foi ali que eu começei a escrever.

E foi ali pai, que recebi de herança este hábito teu.


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