sexta-feira, 4 de junho de 2010

A sala N de nada

Fui pegar meu pôster na sala N de nada. Estava vazia e na penumbra. Subi na mesa, peguei o pôster, começei a enrolá-lo e fui envolvida por uma nuvem de nostalgia. Olhei os micros, as cadeiras, o mural...quanta folia a gente fez aqui neste lugar...como crescemos, quantos artigos escritos... me deu uma fincadinha de leve na alma...estou partindo...estou deixando tudo isso. Não que as coisas não tenham mudado também. Aqueles amigos queridos de outrora também já não mais aqui estão. Aquele clima de família já se esvaiu daqui.
Vivíamos em clima de festa e pressão. Tudo tinha prazo, cada feira queria o resumo de um jeito, o pôster de outro, a apresentação de outra e a gente rebolava pra dar conta de tudo. Os profes precisavam de publicação, a gente se esgaçava pra entregar os artigos, enquadrá-los e enviá-los para as revistas. Mas havia uma coisa que fazia tudo isso ser muito bom: tínhamos uns aos outros. O que um não sabia o outro ajudava, quando um não tinha como ir outro comparecia e assim conseguíamos dar conta de tanta correira, tanta tarefa e se divertir com tudo isso.
Tinha uma que fazia Turismo, maluquinha da cabeça, que adorava um título, corria que nem uma louca atrás das coisas de sua orientadora, trazia umas coisas deliciosas pra gente comer com chimarrão, estava sempre com umas gostosuras na bolsa. Era parceira, se preocupava com os outros, nunca dizia não, se podia ajudar estava sempre ali.
Tinha a bonitona da Farmácia, que de vez em quando enfiava na cabeça que estava gorda e ficava inventando bobagens pra emagrecer. Falava "hipoglicemiantes" e "glibenclamida"como se estivesse dizendo "Vovô viu a uva". Personalidade forte, uma alemoona braba, mas com um coração enorme. Aparecia de vez em quando com umas camisinhas com sabor, com garra, uma mais incomum que a outra. E a gente dava risada juntas.
Tinha o sabichão da História, que mais enrolava do que realmente sabia das coisas, ehehehe...e tinha o pequeno gênio da História, que era quietinho mas que sabia mesmo do que falava, e impressionava a gente com a sua cultura.
Tinha os guris da Biomedicina, e também as gurias, claro. Eu nunca entendia direito a pesquisa deles, com aqueles vocabulários estranhos, mas eram gente fina pra caramba, festeiros e sempre parceiros nas nossas jantas.
Ah!!! As nossas jantas! Saía eu e o Lucas, apelidado carinhosamente de Mudinho pelo seu espírito introspectivo, comprando as coisas pra o "salchipão", ele assava e eu fazia a "maionese verde". Sempre um sucesso nosso cardápio!
Tinha a Carol, hoje presidente do DCE, chiquérrima, de aliança no dedo também!!! Tinha o People, nossa, como não falar do People? E como falar? Indescritível, inenarrável! Figura.
O nome da sala pegou e era só uma brincadeira. O Tiririca anotava o pedido do nosso lanche e perguntava "onde é pra entregar?" e eu respondia "prédio lilás, sala 201 N de nada". 

Estávamos sempre amontoados, juntos, trabalhando e se esbarrando, disputando os micros e até as cadeiras!!!


E agora esta sala vazia, no escuro. Os micros desligados. Antes era só um nome, uma farra. Hoje um real nada.
Que desolador. Que triste. Onde a energia de outrora? Onde os risos, as perguntas, as pressas? Onde o chima, as mãos estendidas, os abraços?
Povo que saudade eu sinto, que saudade eu vou sentir. Que bom ter feito parte desta equipe científica que tocava não só artigos, mas também o nosso coração.

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