O amor transcende. Flui. Muda. Tem várias formas. Tem vários sentidos. Tem espaços e pedaços encantados. Tem gratidão, tem amizade. Estranhamente desde ontem tenho pensado no dia de hoje com uma certa doçura. Uma lista foi passando na minha lembrança e eu agradecendo a cada uma das pessoas, tantas pessoas, que me amaram, que me cuidaram, que me amaram platonicamente, que me ampararam, que seguraram minha mão com ternura quando precisei.O dia dos namorados normalmente é comemorado entre duas pessoas que se amam e que, entre outras coisas, se desejam sexualmente. Mas na lista maluca que passou na minha mente, houveram pessoas que eu não desejei. Como se o dia dos namorados fosse o dia do amor. Amor de todo jeito. De todas expressões. Amor em forma de cuidado com o outro.
Houveram pessoas que me amaram e me desejaram muito platonicamente. Tanto e por tanto tempo que tive de silenciar, calar, para que pudessem construir outras histórias. Mesmo que deixando ali uma ferida aberta pela indiferença. Não foi indiferença! Mesmo que não saibam e nem possam saber, foi um respeito imenso pelo que são e pelo que me deram! Foi a minha forma de amá-los. O desejo tem esse lado do rosto triste, por separar as pessoas. De certa forma, posso pensar que o desejo atrapalha na grande maioria dos casos de amor...ele só é feliz quando há correspondência do outro. Quando não há, ele dilui o amor na frustração. Porque há amor, mesmo que não haja desejo. Eu amei tanta gente que não desejei... Mas o desejo não aceita rejeição...
Houve gente linda, tão linda, que cuidou de mim com tanto carinho em momentos tristes que estão dentro de mim o tempo todo. São companheiras e companheiros dessa trilha chamada vida.
Houveram umas pessoinhas que marcaram por um gesto, um sorriso, um olhar ou por pura admiração.
Houveram também pessoas que foram muito, muito amadas e desejadas por mim, mas que me rejeitaram. Algumas afetuosamente, outras nem tanto. E mesmo essas estavam na minha lista de carinho, de ternura. Meus ex-namorados também. E isso é tão irreal. O corriqueiro é deixar os ex pra lá, "quem anda pra trás é caranguejo" como eu sempre gostei de repetir. Mas agora não. Dessa vez não. Ou daqui pra frente não. (?) Estarei ficando velha? Ou adquirindo a serenidade característica das pessoas que viveram muito e aprenderam muito? Ou é só um surto passageiro?
Eu não sei. Mas sinto que todas as pessoas que de alguma forma revelaram o amor na minha vida, contribuíram para minha construção enquanto ser. Me deram muito. Me deixaram marcas lindas. Sim, marcas lindas! Olho agora essas cicatrizes e me orgulho. As afago ternamente.
E são várias cicatrizes. Porque sempre senti intensamente. "As emoções são cavalos selvagens" a personagem do livro dizia. O autor repetia a frase durante o texto por vezes e vezes. E eu me identificava tanto...
Um traço marcante da minha forma de existir nesse mundo é a forma apaixonada como lido com as coisas. Como me encanto com detalhes, como me irrito com pequenos atos mesquinhos, como defendo meus ideais ferrenhamente, como me decepciono arrebatadamente, como amo e protejo quem eu amo, como excluo pessoas da minha vida de forma definitiva. Tudo isso muito lealmente, claramente, sem desvios, sem disfarces. Porque não sei e não gosto de contornar. Gosto de deixar claro o que sinto. Gosto que saibam o que podem esperar de mim. E por isso mesmo, me exponho despudoradamente e perigosamente. Ou me expunha...
Aqui nessa cidade onde me enclausuro momentaneamente até conseguir o ben/mal dito canudo, eu apanhei tanto, como nunca apanhei na vida. Essa exposição despudorada de franqueza e sentimentos ofendeu e escandalizou. Um pedaço de mim foi sendo agredido intermitentemente ao longo desses três anos. Foi sendo massacrado. Não sei quanto sobrou de mim, do que eu era, ou sou, não sei quanto tem ainda nesse corpo e alma violentados. Eu precisava sobreviver. Numa selva de leões é bom aprender a viver no alto das árvores. Princípio básico de adaptação. E também uma forma de assassinato: é preciso matar-se para então reviver de outra forma.
Então, eis que hoje, depois de tanta matutação em cima do amor, seu significado pra mim e todas as formas em que ele se revelou na minha vida, eu consigo um contato imediato de não sei que grau com a pessoa que eu era, e que talvez ainda seja, ou que virei a ser de novo.
A vida me dizendo "a pessoa que tu és deixou marcas, justamente por ser assim e essas marcas são pra sempre". Ó vida... Eu também tenho saudade de sentir o cheiro das flores, pisar na grama, deitar no sol. Mas há leões lá embaixo...
Eu também sempre estarei lá! Naquele lugar, no sagrado onde colocamos tudo isso.
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